Corrida de expectativas, mas...

A expectativa era muita! Mas o que houve em grande quantidade foi só mesmo expectativa. 
Cartel de eleição, duas ganadarias de renome e noite de exaltação do forcado vila-franquense. 
Foi assim a última da Feira de Outubro em Vila Franca de Xira no passado dia 7, na tradicional terça-feira nocturna.

A primeira parte foi de Victorinos e a segunda de Pinto Barreiros (e o sobrero de S.Torcato). 
Dos Victorinos há a dizer que mais se esperava. Fraca apresentação e nem na bravura ‘marcou pontos’. Os que saíram na segunda parte ficaram igualmente a dever à apresentação, melhorando no que toca à bravura.

Abriu a noite António Ribeiro Telles com um Victorino de arreões que acusou 485kg. 
O ‘mestre’ da Torrinha não teve a vida facilitada, fez o Victorino mexer, mas a colocação da ferragem esteve longe da qualidade habitual. Da lide fica na memória a brega de valor. Nada de música nem volta para o cavaleiro. O Pinto Barreiros tinha 455kg e foi nobre e estava bem apresentado. Perseguia a montada, mas nem sempre houve toiro no momento da reunião. 
Nesta lide já se viu mais do António do costume, aqueles ferros de alto a baixo e cravados ao estribo. Destaco o terceiro. Mas mesmo assim já lhe vi melhores noites/tardes. O toiro foi de volta ao ‘ruedo’ e agora com o novo regulamento, os três lenços saíram do ‘bolso’ do Sr. Director de Corrida. Ainda assim não considero que este Pinto Barreiros, saído em quarto lugar, tenha sido o melhor da noite.

Vítor Ribeiro lidou o segundo e quinto. O Victorino de 455kg, bisco e de escassa apresentação foi motivo para fortes protestos daqueles que ocuparam meia Palha Blanco. Por Vila Franca, normalmente, é assim: respeita-se, mas também se exige respeito. O cavaleiro deixou dois compridos e ao terceiro curto escutou música. A brega de qualidade foi o melhor da lide, a colocação da ferragem nem sempre primou pela correcção. Na segunda parte, teve por diante, para mim, o melhor toiro da corrida. O Pinto Barreiros acusou 535kg e foi bravo e sério, mas o cavaleiro não deslumbrou frente a este exemplar. Não entendeu o que teve por diante e a colocação da ferragem foi pautada pela irregularidade. Foi uma lide sem história, sem música nem volta.

Duarte Pinto lidou um Victorino e o sobrero de S.Torcato. Começou pelo espanhol que tinha 475kg e, tal como os outros vindos do lado de lá da fronteira, estava mal apresentado. Deixou a ferragem comprida da ordem e nos curtos andou correcto. O segundo curto foi, na minha opinião, o melhor desta lide. O sobrero tardou em sair, teve de ser embolado. Pertencia à ganadaria S.Torcato, pesava 450kg e não apresentou grandes complicações. Duarte Pinto entregou-se e levou a cabo uma lide agradável com curtos de qualidade, principalmente o segundo que foi deixado com precisão.

Os Amadores de Vila Franca pegaram em solitário. Bruno Casquinha bateu palmas ao primeiro da noite e consumou à terceira tentativa. Pedro Castelo fechou-se bem e efectivou à primeira. António Faria foi para a cara do terceiro e fechou-se com decisão, concretizando com valentia à primeira. João Pedro Bento “Petróleo” consumou à segunda tentativa uma boa pega, ao som de um pasodoble, em noite de despedida. O cabo Ricardo Castelo, forcado com ‘provas dadas’, efectivou à primeira. Rui Godinho pegou, e bem, o último à segunda tentativa.

Aficionados em pé só mesmo quando António Ribeiro Telles cortou a coleta a Ernesto Manuel, membro da sua quadrilha. Valoroso toureiro de prata cumpriu 31 anos de alternativa. Deu uma volta aplaudida e emocionada na ‘sua’ praça. A Palha Blanco também aplaudiu de pé o forcado João Bento “Petróleo” que se despediu das arenas, momento em que o redondel da castiça e centenária praça se encheu de barretes dos seus colegas de grupo. A festa é feita de momentos e emoções, isso não se pode negar.

De notar o trabalho da Tauroleve nesta feira. Fez por montar carteis com verdade sempre considerando, e muito bem, o toiro como figura central da festa. Pelo menos assim foi anunciada. Foram duas corridas que valeram por alguns momentos e detalhes. Momentos de arte e paixão na castiça Palha Blanco.

Ah, e é verdade, por Vila Franca gosta-se de ver tourear toiros. Não vale a pena tentar triunfar sem toiro, tentar ‘tourear o público’ não é uma boa táctica para quem vai a Vila Franca. Tal facto ficou claro na passada terça-feira.

Dirigiu a corrida o Sr. Director Pedro Reinhardt.

Lisa Valadares Silva