Morante não se escreve. Morante sente-se e sonha-se.

Não queria escrever sobre a noite de dia 30 de Junho. Não queria porque de Morante não sei, não posso e nem devo escrever. Mas dia 30 de Junho eu senti. E de Fevereiro a Junho, sonhei. Oh se sonhei! Meus senhores, é-me impossível ser imparcial, meus senhores sou de Morante, tenho essa fé que não se explica nem se ensina, sente-se apenas. ‘Sofro’ de algo que não tem cura (e graças a Deus que não tem cura) e chama-se morantismo: mais que uma paixão, uma forma de viver.


Morante é um estado de alma. É sonhar acordado um sonho perfeito. Foi assim na passada quinta-feira, principalmente com o exemplar de Zalduendo que saiu em último lugar. Meus senhores, o tempo parou! El Cigala cantou a Morante e José António Morante Camacho, Morante de la Puebla, pintou um quadro. Ainda hoje estou a viver aquela faena. Com o primeiro da noite já o maestro tinha mostrado que estava em Lisboa para fazer renascer a paixão ao toureio a pé. Aquelas verónicas com que o recebeu e a média com que rematou... O segundo e terceiro toiro não serviram e o génio de Puebla del Rio abreviou e fez bem.


Morante não tem dia sim, nem dia não. Morante é sempre Morante ao estilo mais verdadeiro da arte de montes. Inspira! Emociona, oh e que emoção e arrepios, olés que saem do coração. Nasceu toureiro. Se a pureza do toureio tivesse nome seria José António Morante de la Puebla.


Mas de que serve tentar passar para palavras o que sinto se o que conta é a palpitação acelerada do meu coração? De que valem os aplausos se o que interessa são os olés que saem da alma e romperam o silêncio do Campo Pequeno? Sou a Lisa, mas de Morante.


Que noite de emoções e sensações, de sorrisos e suspiros. Que forma mais bonita de viver, a de creer en el morantismo.


Desculpem, não foi uma crónica. Foi um desabafo!


Lisa Valadares Silva