Olé Garrido, Bem Rouxinol.

No passado dia 19 foi levada a cabo no Campo Pequeno a novilhada de promoção de novos valores da festa. Cartel composto por Manuel Vacas de Carvalho, Luis Rouxinol Jr e pelos novilheiros José Garrido e Diogo Peseiro (aluno da Academia de Toureio do Campo Pequeno). 
Dos campos da Galeana vieram os novilhos. E pegaram os Amadores de Arruda dos Vinhos.

Saíram à arena Lisboeta seis Murteira Grave com peso, trapio e de apresentação ímpar.

Abriu a ‘noite’ Manuel Vacas de Carvalho frente a um novilho colaborante de 470kg. Noscompridos as coisas não correram, de todo, bem! Três compridos deixados fora do sitio, e ouviram-se justos assobios. Tentou emendar-se nos curtos, onde a irregularidade soou mais alto que a vontade de triunfar. Terminou a lide com dois violinos aplaudidos. Foi discreta a passagem do cavaleiro por Lisboa.

Ainda no toureio a cavalo, Luis Rouxinol Jr. que supostamente prestava prova de praticante, mas que por imposição do IGAC não foi possível, fechou a noite com um dos melhores novilhos. Novilho preto de 520kg, bravo e nobre. Rouxinol deixou três compridos de qualidade e ‘en su sitio’. Nos curtos ando desenvolto e a emoção chegou às bancadas. A ferragem foi deixada de forma correcta. Adornou-se, ladeou e foi aplaudido. Vibrou e fez vibrar. Terminou com uma rosa uma lide que, certamente, não se esquecerá tão depressa. Prestando ou não prova de praticante, passou com distinção esta ‘prova’ que é a arena do Campo Pequeno.

Pelos Amadores de Arruda dos Vinhos foram caras Bruno Silva e Rodolfo Costa que concretizaram ambas as pegas ao primeiro intento.

No toureio a pé, Diogo Peseiro toureou o 3o e 5o da noite. Esperava mais! No capote fez por baixar a cara aos novilhos, lanceou por verónicas, nem sempre terminadas. No tércio de bandarilhas as coisas correram bem, apesar de ter demorado algum o tempo o que não é benéfico nem para o novilho nem para o público, mas o público do campo pequeno gostou e aplaudiu. Peseiro adorna-se muito e isso é aplaudido. Às vezes parece que se dá mais importância ao que é acessório. Na muleta tinha vontade, mas as coisas nem sempre 
resultaram bonitas. Ficou novilho por ver, infelizmente. Fez por praticar um toureio variado, recebeu à porta gaiola; bandarilhou ‘al quiebro’; ao simular a estocada final ‘inspirou-se’ em Ivan Fandiño, mas foi apenas uma tentativa de imitação que demonstra as ganas do novilheiro e a vontade de chegar mais longe. Ambos os novilhos cumpriram bem a ‘função’. Acredito que não tenha sido a noite sonhada pelo aluno da Academia do Campo Pequeno. Fica para a próxima, Diogo!

Deixo para o fim o que, para mim, foi o melhor da noite: José Garrido. Natural de Badajoz e antigo aluno da escola de toureio de Badajoz, novilheiro com picadores e futura figura, segundo se diz. Com ele a história foi outra! Joga numa liga diferente! No primeiro recebeu por verónicas de eximia execução com técnica e temple, com classe e sentimento muito aplaudidas. Os de prata andaram bem no tércio de banadarilhas. Na muleta entendeu o novilho e mostrou o que o astado tinha de melhor. No segundo novilho, oh meus senhores, bordou toureio! Verónicas perfeitas, chicuelinas de fazer sonhar. Na muleta evidenciou um à vontade com a mão esquerda, viu-se novilho e toureiro. Mostrou-se ao oponente sem recorrer a adornos despropositados pois “El toreo no son gestos forzados; el arte brota de tu cuerpo, sin buscarlo”. Detentor de uma técnica invejável fez com que parecesse fácil. A faena foi brindada ao ganadero, Dr. Joaquim Grave, que o acompanhou na segunda volta ao ‘ruedo’.

Foram duas faenas de toureio puro, calmo e templado, onde entendeu bem o que tinha por diante. A aficion suspirou ‘olés’. Os aficionados do toureio a pé vibraram e aplaudiram de pé. 
Aqueles que sentiram, aqueles que sonharam, aqueles que vibraram, tão depressa não se esquecerão da noite de Garrido no Campo Pequeno. Torero! Torero! Torero!

Lisa Valadares Silva